A exoneração imediata do servidor comissionado Rodolfo Belém, anunciada nesta quarta-feira (12) pelo prefeito Washington Quaquá, trouxe à tona muito mais do que um caso isolado de conduta imprópria. O episódio revela a fragilidade nos critérios de nomeação política e levanta questionamentos profundos sobre o uso da máquina pública como moeda de barganha para ocupação de cargos estratégicos no governo.
Belém foi exonerado após a circulação de um vídeo em que sugere a criação de um grupo de "segurança privada" com funções paralelas às forças oficiais, propondo "fazer justiça" e patrulhar a região de Ponta Negra. A proposta, com nítidas semelhanças ao modo de operação de milícias armadas, gerou forte repúdio.
“Determinei a imediata exoneração do servidor comissionado Rodolfo Belém após tomar conhecimento de vídeo em que este sugere a criação de um grupo semelhante a uma ‘milícia’ para atuar fazendo ‘justiça’ e ‘segurança’ de forma privada e ilegal”, declarou Quaquá.
O caso revela um problema estrutural: a ausência de filtros rigorosos na nomeação de servidores comissionados. Belém, lotado na Secretaria de Direitos Humanos, chegou ao cargo por indicação política. A falta de uma verificação prévia de histórico, comportamento ou alinhamento institucional permitiu que alguém com tais ideias assumisse uma função pública sensível.
Esse episódio evidencia que cargos comissionados — que deveriam ser ocupados por pessoas tecnicamente preparadas e alinhadas com os princípios da administração pública — muitas vezes servem como moeda de troca em arranjos políticos, sem qualquer avaliação de mérito ou idoneidade.
Mais grave ainda é o conteúdo do vídeo em que Belém afirma que outras pessoas já estariam prontas para compor esse suposto “grupo de segurança”. Isso levanta um questionamento crucial: quem são os demais integrantes mencionados? Estão também em cargos comissionados no governo municipal? Teriam sido nomeados pelo mesmo grupo político? Estariam, silenciosamente, em funções públicas enquanto articulam ideias que atentam contra o Estado Democrático de Direito?
A resposta a essas perguntas é urgente — e exige investigação. A exoneração de Belém é um passo, mas não encerra o problema. O caso precisa ser tratado como sintoma de algo maior: o uso da estrutura pública para acomodar aliados políticos sem o devido escrutínio técnico, ético ou legal.
Quando servidores públicos utilizam o cargo para promover iniciativas privadas e ilegais de “justiça paralela”, isso fere os princípios mais básicos da administração pública: legalidade, moralidade e impessoalidade. E quando isso parte de alguém nomeado politicamente, sem processo seletivo ou análise de conduta, o risco se estende a todo o governo que o acolheu.
A resposta do prefeito Quaquá, embora firme, carrega consigo um alerta: quantos outros casos semelhantes estão escondidos sob o manto do compadrio político?
Enquanto o prefeito destaca os avanços na legalização da Guarda Municipal e na colaboração com forças públicas de segurança, o episódio levanta dúvidas sobre o real controle do governo sobre sua base de nomeados. A população de Maricá tem o direito de saber se o aparato público está sendo usado para proteger a cidade — ou para abrigar ideias perigosas, amparadas em laços de amizade e conchavos políticos.
A exoneração de Rodolfo Belém não pode ser tratada como ato isolado e resolutivo. Ela precisa ser o ponto de partida para uma apuração rigorosa sobre:
Como ele foi nomeado?
Quem indicou?
Quem mais estaria envolvido na proposta do grupo?
Existem outros nomeados com esse perfil?
Quais são os critérios adotados pela Prefeitura para cargos comissionados?
A máquina pública não pode ser usada como trincheira para aventureiros ideológicos ou aliados sem compromisso com a legalidade. Esse episódio escancara a necessidade de transparência na gestão de pessoal, controle institucional sobre nomeações e, sobretudo, fiscalização contínua sobre quem ocupa o poder, mesmo nas funções “menores”.
Se não houver uma resposta institucional robusta, a milícia que foi evitada por um vídeo, poderá ressurgir — não nas ruas de Maricá, mas nos bastidores do próprio poder público.
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