A Polícia Federal (PF) indiciou nesta segunda-feira (17) o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) no âmbito do inquérito que apura o suposto uso irregular da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo federal. A investigação, conhecida como caso da “Abin paralela”, aponta que o sistema teria sido usado para monitorar ilegalmente autoridades públicas, jornalistas e opositores políticos do então presidente.
Contudo, o que mais chamou atenção foi o timing político do indiciamento de Carlos Bolsonaro, ocorrido apenas dois dias após o vereador anunciar publicamente sua pré-candidatura ao Senado Federal por Santa Catarina, nas eleições de 2026. A coincidência gerou uma onda de críticas nas redes sociais e entre parlamentares da base conservadora, que apontam mais uma tentativa de intimidar e inviabilizar politicamente a família Bolsonaro.
Segundo o relatório da PF, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), o esquema teria começado quando Ramagem chefiava a Abin. O grupo teria utilizado o software First Mile, uma ferramenta capaz de rastrear celulares por meio das redes 2G, 3G e 4G, sem a necessidade de autorização judicial. As investigações alegam que esse sistema teria sido usado para monitorar em tempo real ministros do STF, como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Luiz Fux, além do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ainda de acordo com a PF, os objetivos seriam políticos e pessoais, contrariando a função institucional da agência de inteligência.
Aliados de Jair Bolsonaro e juristas independentes enxergam na condução do inquérito um claro viés persecutório, especialmente diante da coincidência com o calendário político. Para eles, o indiciamento de Carlos logo após o anúncio de sua pré-candidatura ao Senado em Santa Catarina não é mero acaso, mas parte de uma estratégia de cerco judicial ao bolsonarismo.
“Essa perseguição sistemática não é mais disfarçada. É escancarada. Toda vez que algum membro da direita começa a crescer politicamente, uma nova investigação ou operação aparece. O caso de Carlos é só mais um capítulo”, comentou um parlamentar do PL sob condição de anonimato.
A base conservadora também questiona a seletividade das investigações, lembrando que casos de espionagem ou uso indevido da máquina pública por governos anteriores foram engavetados ou sequer investigados com o mesmo rigor. A atuação da Procuradoria-Geral da República (PGR) agora será decisiva: caberá ao órgão decidir se formaliza uma denúncia ao STF, ou se arquiva o caso.
O indiciamento de Carlos se soma a uma série de investigações, operações policiais e ações judiciais que, segundo analistas políticos e apoiadores, formam um ambiente de caça às bruxas contra a família Bolsonaro. Jair Bolsonaro enfrenta dezenas de inquéritos e processos, muitos deles originados por interpretações políticas de atos administrativos durante seu mandato.
Além disso, outros aliados próximos, como o ex-ministro Gilson Machado, foram alvos de prisões e mandados recentes, o que levanta suspeitas de um movimento coordenado para neutralizar a direita política antes das eleições de 2026.
Com o relatório da PF entregue ao STF, os próximos passos dependem da PGR, hoje comandada por Paulo Gonet, visto como um nome alinhado à cúpula do Judiciário. Se a Procuradoria apresentar denúncia, o STF decidirá sobre a abertura de ação penal.
Já no campo político, o caso pode ter efeito inverso ao pretendido: fortalecer a imagem de Carlos Bolsonaro como vítima de perseguição e transformar sua candidatura ao Senado em símbolo de resistência. Aliados afirmam que a população está cada vez mais consciente da “judicialização seletiva da política” e pode reagir nas urnas.
A denúncia da “Abin paralela” é grave e precisa ser investigada com responsabilidade, mas os indícios de motivação política e uso seletivo da Justiça não podem ser ignorados. Quando o aparato estatal é mobilizado contra adversários políticos, perde-se a confiança nas instituições. A democracia exige isenção — e não um tribunal de exceção.
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